sábado, 28 de dezembro de 2013

Balanço das atividades da companhia (2012 - 2013)

FALA Companhia de Teatro comemora seu primeiro ano de realizações

Montagem de ZERO no Festival de Teatro de Curitiba 2013 (fotografia: Bruno Mancuso)

Fundada em Dezembro de 2012, a FALA Companhia de Teatro comemora seu primeiro ano fazendo o balanço de suas atividades desde sua fundação. Além das oficinas, circuitos de palestras, e co-produções, a companhia realizou os espetáculos PARIDO, ZERO e GAFANHOTO em seu primeiro ano.

PARIDO (2012)

Bruno Mancuso e Daniele Agapito, PARIDO (fotografia: Lauro Borges)
O primeiro trabalho da companhia foi PARIDO, com texto e direção de Don Correa. A peça foi apresentada na Mostra de Dramaturgia SESI - Teatro Guaíra de 2012 e contava com os atores Bruno Mancuso, Brian Townes, Daniele Agapito e Sávio Malheiros.

Escrito por Don Correa no Núcleo de Dramaturgia SESI/PR, o espetáculo foi descrito pelo diretor Roberto Alvim como "uma instauração delicada, de anjos no palco", e em entrevista para a Gazeta do Povo como "uma espécie de épico sobre todos os homens que caminharam sobre a terra". A jornalista e crítica teatral Luciana Romagnolli, em crítica intitulada "Poema cênico materializado em corpos sob o barro e a luz", considerou a obra como "uma peça que desponta pela potência de sua teatralidade".

ZERO (2013)


Brian Townes, ZERO (fotografia: Bruno Mancuso)
Em Abril de 2013, a companhia realiza a montagem do único espetáculo em inglês do Festival de Teatro de Curitiba. O autor e diretor Don Correa convida Brian Townes (co-fundador da companhia) para a encenação de ZERO (a postscript to the anarchist cookbook) durante uma mostra especial do festival (Coletivo de Pequenos Conteúdos). O espetáculo obteve destaque na edição do FTC 2013 na recepção de público e crítica, sendo apontado por Luciana Romagnolli como "uma orquestração sensível de luz, som, ritmos e sensações" em balanço crítico para a Gazeta do Povo.

Em Maio de 2013, ZERO seguiu para São Paulo a convite do Club Noir para cumprir breve temporada em sua sede na Rua Augusta. O crítico Ruy Filho, que havia assistido as apresentações em Curitiba, e em seguida em São Paulo, escreve sua crítica ao espetáculo, publicada na Revista Antro+, tecendo o seguinte comentário: "Zero realiza bem o proposito do transumano. Consegue se destacar nas experiências mais próximas aos princípios da teoria, ao elencar imagens fortes, simbolicamente complexas, a partir de estruturas de representação simples e belas. O ator, evidentemente, não atinge o estado de autocombustão. Mas a experiência trazida ao espectador pode ser sim descrita como uma maneira de incendiar suas convicções por dentro. Atear fogo é pouco nos dias atuais. É preciso conseguir levar o outro a aceitar sua própria destruição. E Zero faz necessariamente bem muito de tudo isso."

Em Junho de 2013, ZERO foi apresentado no Teatro SESI em Curitiba.

Em Agosto de 2013, ZERO foi apresentado no Festival de Teatro de Londrina (FILO), integrando a Mostra de Dramaturgia SESI no festival. 

Em Outubro de 2013, ZERO foi apresentado no 5º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council (SP). Em seguida, o espetáculo seguiu para cumprir temporada no Teatro Guaíra (miniauditório) tendo a projeção de legendas em português sincronizadas à fala do ator.

GAFANHOTO (2013)

Sávio Malheiros, Eduardo Ramos e Maíra de Aviz, GAFANHOTO (fotografia: Gazeta do Povo)

Em Dezembro de 2013, a FALA Companhia de Teatro realiza seu mais recente projeto: GAFANHOTO, de Paulo Zwolinski. O diretor Don Correa, ao lado dos atores Eduardo Ramos, Maíra de Aviz e Sávio Malheiros, encenam pela segunda vez texto de Zwolinski ("Os Pássaros" fez estreia no Teatro Novelas Curitibanas em Novembro de 2013, com a produção da Cia Saggioratto, sob direção de Don Correa).

GAFANHOTO fez sua estreia na abertura da Mostra de Dramaturgia SESI - Teatro Guaíra de 2013, seguido por palestra de Georgette Fadel. A crítica e jornalista Soraya Belusi, em crítica dedicada ao espetáculo intitulada "a experiência da destruição pela linguagem", elabora o seguinte comentário sobre a obra: "A morte como possibilidade de se enxergar a vida por uma perspectiva outra daquela que denominamos como real. Apenas indícios, lastros de identidades que, um dia talvez, tenham se configurado como plenas, mas que, ao atravessarem a fronteira, se explodem em vozes estilhaçadas sem se configurarem como sujeitos unitários, completos ou reconhecíveis. É preciso morrer (ou, no caso do espectador, matar-se) para tornar-se outro(s)."

FALA COMPANHIA DE TEATRO


Don Correa (diretor, PARIDO, ZERO, GAFANHOTO)
Brian Townes (ator, PARIDO, ZERO)
Bruno Mancuso (ator, PARIDO; fotógrafo, ZERO, GAFANHOTO)
Daniele Agapito (atriz, PARIDO)
Eduardo Ramos (ator, GAFANHOTO; assistente de direção, ZERO, GAFANHOTO)
Maíra de Aviz (atriz, GAFANHOTO)
Sávio Malheiros (ator, PARIDO, GAFANHOTO)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A experiência da destruição pela linguagem (Gazeta do Povo, Curitiba)

Crítica e jornalista Soraya Belusi escreve sobre GAFANHOTO de Paulo Zwolinski, direção de Don Correa


Eduardo Ramos, ator (Fotos Elenize Dezgeniski)
A morte como possibilidade de se enxergar a vida por uma perspectiva outra daquela que denominamos como real. Apenas indícios, lastros de identidades que, um dia talvez, tenham se configurado como plenas, mas que, ao atravessarem a fronteira, se explodem em vozes estilhaçadas sem se configurarem como sujeitos unitários, completos ou reconhecíveis. É preciso morrer (ou, no caso do espectador, matar-se) para tornar-se outro(s).

"Gafanhoto", espetáculo que abriu as apresentações da Mostra de Dramaturgia do Sesi, desestabiliza o dramático (e consequentemente o humano) ao se apropriar de forma potente de procedimentos propostos pelas dramáticas do transumano, elaborada por Roberto Alvim, que coordena, há cinco anos, o núcleo de criação em Curitiba.  

Em sua escritura, Paulo Zwolinski, autor do texto, opera deslocamentos na linguagem que impossibilitam a construção unívoca de sentido, por meio de procedimentos de repetição, replicação e variação, esvaziando o significado a cada nova citação, buscando, através da própria arquitetura línguística, lançar o espectador em experiências de destruição e devastação, embaralhando o entendimento em prol da construção de intensidades colocadas em trânsito permanente, deixando entrever forças de violência e sexualidade.

"E então eu já estou morto

tente ao menos tocar minha fumaça".


Sávio Malheiros, Eduardo Ramos e Maíra de Aviz (Fotos Elenize Dezgeniski)


Não há mais o sujeito ou o personagem. São emissores que parecem não falar (apenas) de si mesmos, apresentam-se de maneira instável, como se povoados por outros. Restam "testemunhos" de subjetividades que parecem cohabitar tempos e espaços fluidos, mutáveis e indefiníveis. Não há mais certezas nas quais se agarrar. Assumem a destinerrância como condição. “Como a morte, a indecidibilidade, o que chamo também de ‘destinerrância’, a possibilidade para um gesto de não chegar ao destino, é a condição do movimento de desejo, que de outra forma morreria antes do tempo”. (J. Derrida, em Sur Parole.Instantanés philosophiques, p. 53).

A encenação de Don Correa se equilibra entre fornecer ao público signos inicialmente reconhecíveis (como por exemplo os figurinos "cotidianos") para negá-los na sequência, ativando, pela fala dos atores (Eduardo Ramos, Sávio Malheiros e Maíra de Aviz), esses diferentes modos de subjetivação, que também são colocados em trânsito pela maneira com que o diretor mobiliza os recursos de luz, construindo e destruindo tempos e espaços impermanentes, dando a ver as presenças-ausências que habitam a fronteira entre a luz e o breu.

(Soraya Belusi)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dramaturgia do SESI faz mostra - (Gazeta do Povo, Curitiba)

Núcleo apresenta seus principais trabalhos do ano durante duas semanas, a partir desta terça (03), no Teatro José Maria Santos


(trecho de reportagem de Helena Carnieri)

"Depois de mais um ano de sala de aula, chegou a hora de os alunos do Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR mostrarem as peças que estão criando. A mostra do grupo começa hoje à noite, com o espetáculo Gafanhoto, com texto de Paulo Zwolinski e direção de Don Correa, às 20 horas, no Teatro José Maria Santos.

Em seguida, a atriz Georgette Fadel faz uma palestra em que abordará um pouco da peça de estreia e de sua experiência com o teatro pós-dramático (não baseado em diálogos nem numa narrativa com começo, meio e fim).

Gafanhoto tem como tema principal a morte. O texto fala de três figuras que se encontram numa casa de campo – numa situação terrível. Um doente terminal é atendido por sua mulher quando um invasor entra na casa, a violenta e mata, sem que o marido possa reagir.

“A ideia da invasão de gafanhotos numa plantação vem a calhar, porque são insetos que chegam, passam e vão embora, mas destróem tudo por onde passam”, explicou Correa à Gazeta do Povo.

Diferentemente de outras peças escritas no núcleo, em que a narrativa é aberta e fica a cargo do espectador dar forma à história que está sendo contada, aqui o núcleo de ação é bem claro. Lado a lado com a violência, surge a sexualidade inconsciente: tanto a mulher que é violentada quanto o homem que se torna um voyeur involuntário sentem prazer com o ato. “É como se a peça fosse contada do ponto de vista da morte, que é a conjunção de vozes que integram o texto”, acrescenta Correa. O resultado é descrito por Alvim como “inacreditável, uma obra-prima”. (...)"

de Paulo Zwolinski
direção de Don Correa
Mostra de Dramaturgia SESI/PR - Teatro Guaíra 2013